segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Representar, verter o que existe: de que tratam as palavras?

Palavras: representação do mundo, entendimento ou entortar, jogar no branco para o branco virar outro, o mundo virar outro.

O mundo: o mundo.

À frente, o branco.

Dos lados, acima, abaixo, entrando por entre todos os cantos: o mundo. À frente, o branco.

O mundo não muda quando o branco se suja. O sujo no branco é que cria outro mundo. Diferente daquele que entra por todos os cantos. Aquele que diz: a palavra é outra coisa que não eu. A palavra, abrigo-a em mim, com muito zelo, pois é dela querer escapar. Não a confundas, ela não é representação, se o fosse, seria impossível, simplesmente não haveria.

Conserto: Palavra não representa, palavra é outra coisa.

sábado, 24 de julho de 2010

Duelo ou Dueto




O verso rascunha-se no peito do poeta.

Imprime-se e apaga o que pensa ser.

Ergue-se à margem, o afogado.

Submerso, perde-se de novo de si, nas águas do não se saber.

Rasga-se em sílabas, esgarça-se na cegueira aflita de parir-se nome.

Nódoa apenas, fugidia abstração.

Mas o poeta, garimpeiro, pescador, domador de leões,

atrai o verso, em traição.

Escapa da jaula o verso, da lupa, do filtro.

Emerge contrariado, comum, vulgar, já visto.

Entranha-se, o poeta, no sonho, no lodo, no Ser.

Monta dos signos seu mosaico de ossos.

Na isca do traidor, a paixão.

Transmuta-se todo em verbo, o poeta - suado, febril, enfermo.

Na vertigem da procura, o poema:

sua cura.

Carmen Moreno