sábado, 24 de julho de 2010

Duelo ou Dueto




O verso rascunha-se no peito do poeta.

Imprime-se e apaga o que pensa ser.

Ergue-se à margem, o afogado.

Submerso, perde-se de novo de si, nas águas do não se saber.

Rasga-se em sílabas, esgarça-se na cegueira aflita de parir-se nome.

Nódoa apenas, fugidia abstração.

Mas o poeta, garimpeiro, pescador, domador de leões,

atrai o verso, em traição.

Escapa da jaula o verso, da lupa, do filtro.

Emerge contrariado, comum, vulgar, já visto.

Entranha-se, o poeta, no sonho, no lodo, no Ser.

Monta dos signos seu mosaico de ossos.

Na isca do traidor, a paixão.

Transmuta-se todo em verbo, o poeta - suado, febril, enfermo.

Na vertigem da procura, o poema:

sua cura.

Carmen Moreno