O verso rascunha-se no peito do poeta.
Imprime-se e apaga o que pensa ser.
Ergue-se à margem, o afogado.
Submerso, perde-se de novo de si, nas águas do não se saber.
Rasga-se em sílabas, esgarça-se na cegueira aflita de parir-se nome.
Nódoa apenas, fugidia abstração.
Mas o poeta, garimpeiro, pescador, domador de leões,
atrai o verso, em traição.
Escapa da jaula o verso, da lupa, do filtro.
Emerge contrariado, comum, vulgar, já visto.
Entranha-se, o poeta, no sonho, no lodo, no Ser.
Monta dos signos seu mosaico de ossos.
Na isca do traidor, a paixão.
Transmuta-se todo em verbo, o poeta - suado, febril, enfermo.
Na vertigem da procura, o poema:
sua cura.