segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Ceder à palavra


O meu amor me disse, ponteiros em meia-noite, uma, duas, três ou quatro palavras.

Naquela hora em que não tinha mais respostas, ele insistia, ponteiros, a girar.

Uma, duas, três ou quatro palavras.

Naquela hora em que já dormia, para uma outra vida.

E ele insistia.

Uma palavra cedeu, apelo sem sustento, caiu sobre o meu corpo e veio a me acordar – me assustou inclusive.

Eu enxerguei

Ponteiros sem horas, eram apenas as palavras.

Uma, duas, três.

E eu as ouvia

Uma, duas, três.

Uma, duas, três.

Numa outra vida da noite, onde eram apenas as palavras.


sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Queria eu ter sua vida, folheando livros de cá pra lá, sem muito com o que me preocupar.

Queria eu ter sua vida, ter muito com o que me preocupar e poder dar a desculpa de não ter tempo para os livros.

Queria eu ter sua vida, viver entre as estantes.

Você não conseguiria, tens muito com o que se preocupar.

Façamos uma troca, amanhã eu leio os livros, amanhã você cuida dos meus negócios.

Não acha muito arriscado?

Se não gostasse do risco, não geria meus negócios. Ficaria lendo livros.

Posso escolher os livros?

Sim. Posso escolher os negócios?

Sim. Mas cuidado, nessa troca você pode perder muito mais do que seu dinheiro.

E o que posso ganhar?

Também muito mais do que seu dinheiro.

Então ganharei. E você, pode ganhar dinheiro, mas acho mais provável que não ganhe nada e, além de perder dinheiro, alerto, a incapacidade nos faz perder o respeito por nós mesmos.

Não me importa ser capaz à sua maneira de ser capaz.

Há outras maneiras de ser capaz?




quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011



Daquela mulher, que vinha a rasgar cartas, e a chorar a perda de um amor.
Eu baixinho lhe dizia. Da angústia,
só resta, formarem-se novas palavras. A escrita a aniquilar um sentimento turvo.


quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A chuva



A escrita cai e se forma:

Pingos, as palavras castas

Sós

Precisam de apoio.

De andar torto,

O escritor

a juntar a chuva perdida

solta dos dias.