
A contar, cerca de dez minutos, sei que fiquei por ali estática. Os olhos grandes e pretos eram maiores. Tomaram o meu tempo como costuma tomar o barulho da chuva. Uma certa impressão contingente, de tempo parado, que se dá por outra impressão maior. O tempo que se transforma numa visão. E os meus olhos, também, ficaram maiores. Era a cor castanha, espalhada em sur tons sobre toda a superfície de seu corpo. Seus olhos apresentavam-se flagelados, com rachaduras finas, bem finas, e negras. Eram olhos de um animal da noite, e aquela tinta, a tinta da noite, escorria por todo o resto de seu corpo, encolhido que estava, eu podia ver.
A minha visão absorvia, um sulgo denso, de uma tinta negra. Um olhar que se fazia preto, e o dia já claro, de repente, escureceu. Dizem da noite, uma sombra constante. A calma da noite, é o que dizem. Mas dele, eu só tinha a dizer medo. Um certo medo que apavora, sem causas de perigos reais. É o medo sem substância, enevoado como a nossa fantasia. A nossa fantasia. Um olhar negro aberto ao desconhecido. Um olhar que busca o que não enxerga, e tenta aprimorar da hora parada, o invisível.
Era a hora da chuva. E perto dele me aconcheguei. Como quem dorme um infinito sem hora, do prazer pelo desprendimento. Perto dele me encolhi, pela insegurança de estar tão próxima ao que não se conhece – daquele bicho que não era borboleta. Uma bruxa, poderiam dizer, mas não. Ele era belo, sua beleza transparente e leve como suas asas que dormiam. Dormi este sono em pleno dia, para me acorbertar da fina camada que nos resta, do que ainda não foi nomeado.
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